Camilo Lucas

prog, punk e Emerson, Lake & Palmer

Emerson Lake & Palmer, provavelmente, são responsáveis pela má fama que o rock progressivo ganhou no fim dos anos 70. Quando Malcom McLaren espertamente copiou os punks americanos da safra Television, Stooges e Ramones pra burilar o Sex Pistols e lançar o punk inglês (que todo mundo até hoje acha que é “o” punk), Emerson, Lake & Palmer deram a ele o que estava faltando: uma bandeira. Atacar a rainha era muito fácil, qualquer roqueiro fazia isso (menos o Queen), não seria diferencial nenhum. Mas atacar na própria carne o rock estabelecido, isso sim seria transgressão. E o que estava em voga quando os punks estouraram era justamente o rock progressivo… grandioso, pomposo, estabelecido, produzido, chic, rico, de assistir ao show sentado…

Isso é rock? Meu avô já fazia isso quando ia aos shows do Bing Crosby e do Frank Sinatra! (diria alguém nos EUA, claro. O MEU avô não ia a shows, mas diz a lenda que era um grande pé de valsa)

Pois é, o espírito do rock era a transgressão e não era isso que se via no rock progressivo, que começou no início dos anos 70 com King Crimson, Jetrho Tull, Genesis e Yes e descambou para o… Emerson, Lake & Palmer.

Keith Emerson (teclados), Greg Lake (guitarra, baixo, vocais) & Carl Palmer (bateria), músicos talentosíssimos, ficavam disputando no palco quem era mais foda. Solos intermináveis, que até eram viajantes pra quem tava no ácido, mas… era chato pra caralho. Nunca consegui ouvir um disco inteiro do ELP. Nem quando ganhei o “Tarkus” de presente. A capa era massa: um tatu-tanque de guerra. As capas dos discos de rock progressivo sempre foram as melhores. As do Yes, então, sempre foram campeãs. O Tarkus dava mais vontade de ficar viajando na capa do que no som. No meio do lado A eu tirava ele e colocava o “Some girls” dos Stones. Acho que nem cheguei ao lado B.

Então eu tô falando mal sem conhecer? Tipo, “não ouvi e não gostei”? não, não é isso… por exemplo, o Ummagumma, do Pink Floyd, tem a capa mais legal de todas as do PF (e olha que as capas do PF são super-top-power de linha), mas o disco não dá… talvez tenha sido depois de ouvir o Ummagumma que o ELP resolveu se reunir, quem sabe… o Ummagumma é piração demais, viagem demais, lento demais, valha-me são Allen Ginsberg!

Aí chega a rapaziada do Clash, Pistols, Ramones & Cia com guitarra, baixo e bateria, músicas de no máximo 3 minutos (mas a maioria era de dois), roupa rasgada e cabelo espetado, sendo que a bateria era mínima, e detona com a turma que tocava músicas de 17 minutos (em média), com uma bateria de três andares, 8 tipos de sintetizadores diferentes ao redor do tecladista, guitarras de dois braços, baixos de cinco cordas, roupas superproduzidas e cabelos que levavam 5 horas só pra aplicar o laquê… tinha de ser o fim do rock progressivo mesmo.

 Mas quem curtiu o auge desta fase do rock (o bom do rock é que ele sempre se reinventa) namorando as capas e ouvindo aquelas viagens boas, que não eram só exibicionismo virtuose mas sim caras bons de serviço usando tudo o que sabiam pra fazer uma viagem sonora tipo o som dos deuses, e era isso mesmo, bom, quem curtiu sabe que não era nada disso que o Emerson, Lake & Palmer achavam que era. A única música legal do ELP é um folk, “Lucky man”. No fim, eles – e outros da turma deles – só serviram pra dar munição pra o enterro do prog. E os punks deram o tiro de misericórdia.

 COLHER DE CHÁ

Eu falei que esta coluna não ia ser didática, mas segue um cursinho intensivo de rock progressivo. Vai com calma, se você chegou agora, porque pode dar embotamento cerebral. Mas se for um de cada vez, e você tiver um mínimo de bom gosto, duvido que não vá curtir. Compre, baixe, pegue emprestado:

 The magician’s birthday – Uriah Heep

  1. Foxtrot / Nursery crime / Selling England by the Pound / The Lamb lies down on Broadway – Genesis
  2. Queen 2 / A night at the opera – Queen
  3. Quadrophenia – The Who
  4. Relayer / Fragile / Going for the one – Yes
  5. Live in New York – Premiata Forneria Marconi
  6. In the court of the Crimson King – King Crimson
  7. Moving Waves – Focus
  8. Fase de Atom Heart Mother até Animals – Pink Floyd
  9. Journey to de Centre of the Earth / Six Wifes of King Arthur / 1984 – Rick Wakeman
  10. Aqualung / Tick as a brick / Too old to rock’n’roll, too young to die – Jethro Tull
  11. Point of no return – Kansas
  12. 2112 / A farewell to kings – Rush
  13. Ashes are burning / Renaiscense

 Deve tá faltando muita coisa, mas esta não é uma coluna didática.

 E mais: Brasil-il-il!!!

  1. Criaturas da Noite / Casa Encantada – O Terço
  2. Quando a sorte te solta um cisne na noite / Influências – Marco Antônio Araújo
  3. Sagrado Coração da Terra / Flecha – Sagrado Coração da Terra
  4. Tudo foi feito pelo sol / Mutantes ao vivo – Mutantes
  5. Som imaginário / Som Imaginário

 

Não sei se vocês repararam, mas… alguns dos principais representantes do prog brasileiro são de Minas. Está rolando uma volta por cima do rock progressivo, com novas bandas etc, mas ainda não tenho nada pra dizer a respeito.

Camilo Lucas

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