Eu já fui internet
Há exatos 34 anos, desempenhei a profissão mais interessante de minha vida: era office-boy. Trabalhava justamente num escritório de contabilidade, na rua da Bahia, nº 570, ed. Alcazar, 10º andar, sala 1010, bem no centro de Belo Horizonte. Era por essa época, que me dirigia, quase que diariamente, ao prédio da prefeitura, levando comigo uns “cartõezinhos brancos” com o logotipo da entidade, cheios de quadradinhos.
Lá, na prefeitura, atendiam-me as mocinhas mais bonitas da cidade, a maioria estagiárias, estudantes do colégio IMACO. Elas mal me percebiam, pois eu era um “tisquinho”, um “anjinho negro”, com meus cabelos pretos encaracolados, mas recolhiam os cartões e sumiam pra dentro das sessões, voltando vários minutos depois, com a data e uma assinatura no cartão, indicando a próxima, das “trocentas” sessões que eu percorreria, até o termíno do processo.
Era assim que se acompampava o andamento da documentação na prefeitura: por meio das datas, ficava-se sabendo onde o processo já tinha passado, onde estava, em que situação se encontrava, e quais eram os documentos solicitados para seu desembaraço. E era eu, o office-boy, que fazia tudo isso. Não só na prefeitura, mas em todas as repartições públicas, bancos, empresas…
Hoje, a internet facilitou tudo. Liga-se o computador acessa-se o endereço desejado, tecla a senha, e pronto: fica-se sabendo tudo que se deseja, a situação de qualquer coisa, qualquer processo, de forma instântanea. E envia-se tudo eletrônicamente, também. A internet acabou comigo, acabou com a figura do office-boy. Não se vê mais jovens de 14 anos perambulando pelas ruas da cidade, de empresas em empresas, de repartições em repartições, esperando uma assinatura ou um carimbo nos cartões.
Mais fácil vê-los perambulando por drogas, vendendo ou consumindo.
A internet facilitou a vida das pessoas.
Fábio Ameida
Os Impublicáveis
Tags:Crônica