Ídolos de pano
Ainda quando era usador do uniforme do IMACO, assistí ao filme “Os dez mandamentos”, no saudoso Cine Independência, com o galã Charlton Heston representando Moisés, da pequena cesta resgatada no rio, ao velho ancião de barbas brancas, que abria o mar com seu cajado. Quanta emoção!
O filme durou quatro horas, fiquei admirado, emocionado, mas não entendí quase nada do seu enunciado. Mas hoje, vendo certas coisas, consigo entender várias passagens do filme, que são “retratos da vida”, que já aconteciam naqueles tempos idos, não do filme, mas bíblicos, e permanecem acontecendo até agora, na conteporaneidade.
Em dado momento do filme, Moisés desce alegre e saltitante do Monte Ararat, ou Sinai, não tenho certeza, com as duas pedras gravadas os 10 mandamentos, mas quando chega ao acampamento, se depara com o “pau quebrando”, maior festão, o golo correndo solto, a orgia no ápice, e o pessoal adorando um “bezerro de ouro”, a “cabeça de um touro”, e mais quantos tótens conseguiram construir.
Moisés se desesperou, berrou, xingou, quebrou-o-pau, quis jogar a tolha, e foi falar com Deus. Então, Deus falou pra ele:
– É Moisés, essa turma não tem jeito. O homem não consegue viver sem adorar alguma coisa que possa ver, que possa apalpar, pegar… E é compreensível, assim, ele se coloca próximo do que ele adora, algo que vê e conhece. Mas não tem terror, não, vai lá e diz praqueles “cabeças-de-vento”, que eles podem eleger “reis”, quantos quiserem, com a finalidade que quiser, mas veja bem, Moisés, deixa bem claro que só podem ser homens, de carne e osso, nada de “cabeça-de-bezerro, sol, lua, raio, trovão… serpente”… nada disso. Escolham lá seus “reis”, seus “ídolos”, e deixe eles se lascarem por lá…
Diz a história, que somente uma vez Deus interveio, e escolheu Davi, como rei para seu povo, e o ungiu com as próprias mãos. E tem uma estória linda dele, mas essa, eu conto outra hora…
Daí, entendí, depois de velho, nossa necessidade de eleger “reis”, “rainhas”, “ídolos”, “mártires”, “celebridades”… daí a origem do “Rei” Roberto Carlos, do “Rei” Pelé, da “Rainha” Elizabeth, da Inglaterra, da “Rainha dos baixinhos”… Mas como sempre digo, “nada de velho, ou de novo”, nossa inoperância continua a mesma.
Seres humanos, de carne e osso, com virtudes e todos os defeitos que os humanos carregam em sua essência. O que os diferencia dos demais, são seus talentos (ou o nome que quisermos dar), e suas capacidades de cantar, jogar, representar… É isso que admiramos neles, mas misturamos as coisas, com essa nossa necessidade de adorar “reis, mitos, ídolos…” Isso é uma coisa herdada, que vem lá de antes de Moisés, que devemos compreender, mas separar bem: podemos admirar o homem e sua obra, podemos admirar só o homem, ou só sua obra. É um direito que nós temos (dizem que o maravilhoso Peter Serlles, enchia a cara e gostava de dá um pau na sua mulher, e o pacifista John Lenonn, só batia na Yoko Ono, de “trivela”).
Mas mesmo assim, ainda encontaremos quem erga estátuas para “kleberes ban-bans”, ou qualquer mulher que tenha 150 de peito e 220 de bunda.
Fábio Almeida
Os Impublicáveis
Tags:Cinema