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Penetras

Vejo falsidade, desleixo, dor, saudade, solidão, angustia, paranoia, melancolia entrando em minha festa sem bater e de mãos abanando, arrastando suas caras lavadas e sorrisos cheios de confiança. Devem ter tido uma ótima semana se divertindo as custas dos outros. Velhos conhecidos que aparecem de tempos em tempos para fazer arruaça na minh’alma e até hoje nunca tomei vergonha na cara de trancar a porta ou mandá-los embora.

Abro uma cerveja para cada e que se foda, sento no sofá e compartilhamos parte de minha história varando a madrugada até que todos os outros convidados sorridentes, crentes e parentes tenham ido embora, eles nem quebraram nada, nenhuma briga, ninguém se queimou com cigarro, só um bunda mole que vomitou, mas acertou o vaso e deu descarga, que merda. Mas os penetras permanecem e infelizmente esta corja é boa de papo, melhor que muita gente que conheço e que não conheço também. Continuo bebendo e bebendo de tudo com essas companhias malditas, mesmo sabendo que a ressaca vindoura terá efeito de tsunami, terremoto, erupção vulcânica e sonda peniana alienígena, mas o pior é que dessa vez não terei amnésia, já sinto saudades!

Serei obrigado a lembrar de como cada filho da puta desses sabotou a minha vida mais uma vez enquanto eu bebia ensandecidamente apenas observando com a vista turva demais para entender qualquer coisa ao meu redor. Levanto o rabo do sofá e quebro um quadro que eu mesmo pintei (nunca gostei daquela porra mesmo) e logo após me queimo com um cigarro que não é da marca do cigarro que eu fumo, é um mentolado tosco com bolinhas para estourar para ficar com “hálito fresco” enquanto fuma (hahaha), não arrumo briga com ninguém, pois não vejo ninguém por perto, mas vomito a sala toda e volto pra sentar novamente no sofá e não há mais ninguém lá, me senti sozinho e a melhor hora da festa é essa. Adeus penetras macabros e moribundos, voltem sempre.

Está tudo bem agora, outras festas virão, outros penetras, outras vidas opacas, mais geladeiras lotadas, infinitas ressacas, mãos amarelas de cigarro até que um penetra chegará e me levará dessa merda com um sorriso embriagado na cara por ter conseguido sobreviver tanto tempo neste lixo.

Saulo Matos

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