Animal emocional
Animal emocional
Robert de Andrade
Meus inimigos são sempre mais sinceros que meus amigos. Quem disse que o que busco nos outros é a sinceridade? Clareza demais cega. Não adianta me mostrar o erro, se você ainda não acertou, nem me ensinar a ser politicamente correto, se vive infeliz na sua segurança. Minhas relações se fortalecem no risco iminente de acabar a qualquer momento. Para ser poético: um ninho à beira do abismo.
Somos incontrolavelmente atraídos uns pelos outros. Não é só a oferta de emprego ou a suposta qualidade de vida que atraem as pessoas para os grandes centros, mas o calor humano. E do meio dessa massa de gente é difícil definir o que se pode ou não fazer, o que se deve ou não sentir.
É quase inevitável não estar em contato com alguém, seja por afinidade ou disparidade. É essa fricção que faz caírem por terra as noções preestabelecidas dos sentimentos. A paz é um exemplo disso. Você conhece algum grupo, por menor que seja, que consiga viver em completa paz? Não duvido da existência desse grupo, mas arrisco dizer que ele pouco sabe o quanto é prazerosa a reconciliação.
Se para Aristóteles o homem é um animal político, para Sartre ele é um animal emocional. Em sua obra escrita na juventude “Esboço para uma teoria das emoções”, Jean Paul aponta a origem da emoção como sendo uma degradação espontânea e vivida da consciência diante do mundo.
Há uma inclinação, bem frequente por sinal, à perda da energia emocional. Isso torna as emoções transitórias. Ninguém passará toda a vida tomado pela ira ou tristeza, elas enfraquecerão, dando lugar a novo sentimento. O mesmo cabe à alegria, a consciência desse estado já anuncia o seu declínio.
Sartre nos coloca mais uma vez diante do abismo. Por que buscar a felicidade, se esta já não estará lá quando alcançada? Ora, na condição de animais emocionais não seremos plenos se nos valermos de um só tipo de emoção, mas sim de várias. É a forma como nos relacionamos com nossos anseios que alimenta esse bicho sentimental que trazemos dentro de nós.
Publicado no Jornal Cultural Plural, nº 11, 2015 – Projeto de Extensão Direito e Cultura da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva.