Parte Três – Pi Ulia Necras
Parte Três – Pi Ulia Necras
Sibéria, 13 de dezembro de 2060.
Andreiev Melochenko[1]
Duas semanas depois daquela noite de pouca excitação, os americanos seguiam em ritmo militar pela trilha. A formação emudecida seguia em marcha pelo íngreme terreno. Mr. More quebrava o silêncio quando reclamava das rochas que se soltavam na subida e a todo instante gesticulava aos demais para que tivessem o devido cuidado com o ataúde metálico. Carregavam equipamento de montanhismo e sacos de dormir para o pernoite, além de picaretas e pás. Abasteceram os cantis num pequeno córrego. O quarteto superou com certa facilidade os trechos de escalada, o que reforçava a grande experiência militar. Diziam que o presidente Carter estava chateado com Geisel, justamente ele, ex-presidente da petrolífera brasileira, que porra era aquela de pensar em revogar os atos institucionais. Em homenagem ao presidente, que era da arma de artilharia, escolheram um cadete artilheiro para o implante do SHIT B. No entardecer, encontraram o jovem cadete no cume do pico das Agulhas Negras. O futuro oficial estava assustado, prestou uma continência aos americanos e resmungou algo como ‘God above all’. Eles riram. “Another stupid for the plan”. Mr. More, que falava fluentemente o português, ofereceu um gole d’água do cantil. O cadete desmaiou logo em seguida. Os americanos realizaram ali mesmo a microcirurgia para o implante do SHIT B. Deixaram o atrapalhado militar num local mais seguro. Seguiram com destino à fronteira de Minas Gerais, local onde a grande caixa de ferro foi enterrada numa cova de 2m de profundidade. O código 20LSON1RO foi digitado numa moderna parafernália eletrônica acoplada à caixa. O artilheiro acordou desorientado, lembrava que havia se perdido do pelotão durante a instrução de escalada, ficou apreensivo com a punição e a possibilidade de não se formar na AMAN. Horas depois foi resgatado por um major da arma de infantaria. O cadete apresentava um pequeno ferimento de aproximadamente 5mm x 5mm na região parietal direita, ninguém percebeu a discreta sutura; reclamava de uma forte dor de cabeça, o que foi curado prontamente numa sacudidela dada pelo oficial superior, muito irritado com o comportamento ‘bisonho’ do aluno. O jovem artilheiro formou-se naquele ano oficial do Exército Brasileiro. Anos mais tarde, em solo americano, muito apreensivo, Mr. More fazia a leitura do relatório nº 171 do Centro de Inteligência para Assuntos da América Latina: “ter abordado aspectos da política econômica e financeira fora de sua esfera de atribuição e sem possuir um nível de conhecimento global que lhe facultasse a correta análise”, o documento referia-se ao oficial artilheiro no programa SHIT B.
[1] Andrey Régis de Melo