Mais um paradoxo: Impublicável publica seus livros impublicáveis
O escritor mineiro Robert de Andrade acaba de lançar dois romances que têm em comum o fato de possuírem a cidade de Belo Horizonte como pano de fundo de suas histórias.
O primeiro, intitulado Os especialistas, foi escrito quando o autor tinha pouco mais de 20 anos de idade. A obra conta a história de quatro idosos que moram no mesmo prédio e têm em comum a solidão, até que juntos decidem fazer alguma coisa para dar novo sentido à vida. Eles inventam diversas ocupações, como plantar tomates, jogar xadrez, pôquer, e até tomar comprimidos a base de THC. Mas, o que de fato lhes dá um novo ânimo, é o insólito crime que acontece no apartamento ao lado. Agora, cada um irá em busca de pistas para desvendar o mistério. Embora os originais tenham ficado na gaveta por quase duas décadas, o livro é de grande importância na formação do autor que, após vê-lo se destacar entre mais de 500 concorrentes, ao figurar entre os finalistas do importante Prêmio SESC de Literatura, em 2005, sentiu-se estimulado a seguir pelo pedregoso caminho da produção literária no Brasil. Criou, ao lado de Barroso da Costa e Cind Canuto, o coletivo Os Impublicáveis, dando visibilidade a textos de autores desconhecidos na internet e na revista do grupo.
já o segundo romance, Oficina do Diabo, é uma produção mais recente, em que Robert de Andrade mergulha no submundo da capital mineira, um ambiente em que humanos coabitam com os ratos em igual condição, em que uma “concepção” é tratada do mesmo modo que uma “defecação”, e a comida do lixo é o prato do dia. Nesse cenário, uma pedra de crack vale mais que uma vida. Pontes de concreto ligam humanos, que já se tornaram pragas urbanas, àqueles que ainda conseguem se compadecer, se solidarizar e amar. A falta de consciência quanto à própria existência faz pular do trampolim do conforto, do trabalho estável, das relações sociais diretamente para o viaduto mais próximo, em as regras são ditadas pela necessidade da próxima pedra ou do próximo resto de comida. E, ao mesmo tempo, a escrita emerge como tábua de salvação, a única luz no fim do túnel para dar cabo ao pesadelo, ao inferno autoimposto, à vida em meio ao fedor, entre os que não têm outra opção. Embora esteja condenado por motivos orgânicos, mentalmente a saída pode ser esta: escrever. Você se agarra a ela com todas as suas forças, inspiração, alma…
Robert nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1980, e além do gosto pela literatura, sempre teve um profundo interesse por livros, na condição de objeto. Começou a ler bem cedo e tem predileção por autores russos e norte-americanos. Graduou-se em Produção Editorial e fundou a Editora São Jerônimo, editando mais de 30 livros de diversas temáticas. Após o encerramento das atividades de sua Editora, em 2020, decidiu se dedicar à publicação de seus livros, inclusive o primogênito.