O café com leite tucano: atropelos e infidelidades entre Serra e Aécio
Em 2008, do alto de uma popularidade avassaladora, Lula estava encerrando seus oito anos de gestão. Ele escolheu como candidata a sua sucessão a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. De perfil técnico, tida como “gerentona” e de difícil trato político, setores do MDB e do próprio PT não receberam bem a escolha do então presidente da República. A escolha de Dilma soava incógnita para todo o meio político. Alguns editoriais a avaliavam como a candidata perfeita para Lula: caso ganhasse, seria graças ao então presidente. Se perdesse, seria por sua própria inabilidade.
Com esse cenário abriu-se um “oceano” de expectativas para os tucanos. E, mantendo a tradição de troca de bicadas e depenos, José Serra, então governador de São Paulo, e Aécio Neves, à época governador de Minas Gerais, passaram a disputar a indicação do partido.
Dessa vez, porém, os postulantes fariam uma disputa preliminar nas eleições municipais de 2008. O poder de articulação e o capital político de ambos seriam testados pelo desafio de elegerem os prefeitos de suas respectivas capitais. Do ponto de vista partidário, tanto Serra quanto Aécio foram “exóticos” na escolha dos seus candidatos. O mineiro, embalando uma estrambótica aliança entre PT e o PSDB para eleger um candidato do PSB, Márcio Lacerda; o paulista, apoiando o nome de outro partido contra um candidato tucano, o ex-governador Geraldo Alckmin.
O pós-derrota de Alckmin não foi dos melhores. Começou com o trágico desabamento no canteiro de obras da Linha-4 Amarela, que provocou a abertura de uma cratera de 80 metros de diâmetro às margens da Marginal Pinheiros — obra licitada durante sua gestão. O incidente matou sete pessoas soterradas.
O ex-governador passou a ser criticado pelo modelo de contratação para a realização das obras, o turn key (chave na mão, em tradução livre), modalidade em que a empresa contratada também era responsável por fiscalizar a si mesma na execução da obra.
A percepção que se formava era de que quando o governo se absteve de fiscalizar a execução das obras — relegando à própria empresa esse papel — a supervisão seria presumivelmente frágil e insuficiente, o que fez recair sob sua gestão a responsabilidade pelo acidente, ainda que por omissão.
Recém saído dos noticiários eleitorais, para Alckmin era um péssimo jeito de voltar ao debate público. Era ruim para ele, mas também para o PSDB. Afinal, ele fora a cara do partido num passado muito recente.
Mais ou menos nessa mesma época, uma esquizofrênica articulação também deu aos tucanos um verniz de ambiguidade política. Ficou estranho quando o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Jutahy Magalhães (BA), declarou apoio à candidatura do petista Arlindo Chináglia (SP) para o comando da Casa.
Alckmin e FHC ralharam. Mas o apoio fora construíd com a aquiescência de Aécio e de Serra. O mineiro ia emplacar um aliado seu na vice-presidência, Nárcio Rodrigues (PSDB-MG); Já Serra conseguiu do PT o compromisso de não lhe criar dificuldades na eleição da presidência da ALESP.
Com a imprensa noticiando o choque de interesses e as óbvias contradições, os tucanos acabaram lançando Gustavo Fruet (PR) para o comando do legislativo federal. Movimento pró-forma. Chináglia venceu a disputa sem grandes dificuldades.
Alckmin conseguiu uma agenda um pouco mais positiva quando fora convidado para se tornar professor universitário na Unimes (Universidade Metropolitana de Santos), onde posteriormente até se tornou professor emérito. A parir daí, ciscando aqui e ali, o ex-governador fez circular sua intenção de disputar o comando da Prefeitura de São Paulo.
Não seria a sua primeira vez. Nas eleições municipais de 2000, quando Marta Suplicy foi eleita prefeita, ele tentou o comando da capital. Alckmin ficou em terceiro lugar, tirando 15,57% dos votos.
Mas, em 2007 as primeiras pesquisas sugeriam que a história poderia ser diferente. Em agosto desse ano, por exemplo, o Instituto Datafolha registrou para o ex-governador 30% das intenções de voto. A ex-prefeita Marta Suplicy (então no PT) marcava 24% e 10% ao prefeito Kassab – tecnicamente empatado com os ex-prefeitos Paulo Maluf (11%), do PP, e Luiza Erundina (9%), do PSB.
Ainda que muito favoráveis, nem tudo são números. Enfrentar qualquer prefeito é sempre um desafio — ainda mais em se tratando de Gilberto Kassab, que é um hábil articulador político. Ele chegou à política em 1992, quando se elegeu vereador da capital pela primeira vez. Economista, engenheiro, empresário e corretor de imóveis, ele também foi secretário de Planejamento da gestão Celso Pitta (1997-2001), cuja gestão ficou marcada de escândalos e desvios de corrupção.
O histórico de Kassab com Pitta, aliás, trouxe resistências ao seu nome entre os tucanos quando da indicação do vice de José Serra na disputa pela prefeitura, quase quatro anos antes. Disputavam com ele a indicação do então PFL o ex-secretário estadual Lars Grael (Juventude, Esporte e Lazer), e um “cabeludo” ex-secretário de Justiça, Alexandre de Moraes — o hoje destemido ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Kassab, porém, tinha maior circulação no PFL que os seus dois correligionários. Ele compunha a Executiva Nacional pefelista e era, àquela data, vice-presidente estadual da legenda. “Consultamos todos os integrantes das executivas estadual e municipal. Contou também para a decisão o apoio da direção nacional do partido a Kassab“, disse à época o vice-governador paulista, Cláudio Lembo, que era o presidente estadual do PFL.
Voltando às desvantagens não numéricas de Alckmin na disputa com Kassab, também pesava em desfavor do ex-governador a composição majoritariamente tucana da gestão municipal. Mais que tucana, “serrista”. A maior parte dos secretários municipais guardava muita proximidade com o governador José Serra. Com isso, como poderia Alckmin, no calor das eleições, criticar mais duramente uma gestão repleta dos seus iguais?
Também por toda essa proximidade com a gestão da Prefeitura de São Paulo, Serra empenhava-se na melhora da aprovação do seu prefeito por meio de ações do Governo do Estado na capital — o que surtiu efeito.
Já em dezembro, pesquisas apontaram uma pequena queda de Alckmin, de 30% para 26% da preferência do eleitorado, empatando tecnicamente com a petista Marta Suplicy. O ex-governador perdeu quase o percentual de crescimento das intenções de voto de Kassab, que foram de 10% para 13%
Acendeu um alerta para os aliados de Alckmim e abria-se um horizonte promissor para Kassab.
O PFL entrou na disputa pressionando os tucanos. Por ter gravitado na órbita do PSDB desde 1994, indicando vices incansavelmente, a disputa pelo comando da capital paulista representaria uma boa oportunidade dos tucanos retribuírem a parceria. A legenda sinalizou que não recuaria sobre a candidatura de Kassab, custasse o que tivesse de custar. O então presidente nacional da legenda, o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), cravou: “Kassab deve ser candidato independentemente da aliança, mas é claro que com o apoio do PSDB passa a ser uma candidatura imbatível”.
Sobre o impasse tucano de lançar candidatura própria ou apoiar um aliado histórico, Maia sugeriu a candidatura de Alckmin ao governo paulista em 2010. “Se Serra se candidatar à Presidência, precisa ter um quadro favorável em São Paulo. É claro que o Kassab não terá condição de ser opositor do Serra em 2010 se a aliança for mantida, ele é leal. Nesse cenário, Alckmin passa a ser um candidato forte ao governo”, disse Maia em entrevista à Reuters.
Tucanos ligados a Serra corroboravam a tese do apoio a Kassab, com vistas aos projetos maiores do partido. “O próximo ano é uma etapa da sucessão presidencial”, disse o secretário de esportes da capital, Walter Feldman (PSDB), prosseguindo: “Nós, do PSDB, precisamos abandonar qualquer projeto individual se quisermos voltar à Presidência. Alckmin é uma peça estratégica para 2010.”
Pelo DEM, o empresário Guilherme Afif chegou a garantir que não haveria duas candidaturas.
Mas Alckmin mantinha-se irredutível. Em certa ocasião, Serra, Alberto Goldman e Aloysio Nunes tentaram convencê-lo a não entrar na disputa. “Chegamos a dizer que ele poderia ser o candidato ao governo do estado. Mas ele manteve a posição. E aí não teve jeito”, disse Alberto Goldeman à jornalista Juliana Dualibi, em matéria da revista Piauí.
Serra tentou aproximar Kassab e Alckmin por meio das inaugurações e eventos na capital, convidando ambos às solenidades. O gesto do governador também servia para comunicar ao público — ainda que apenas no campo das aparências — que ele não tinha um candidato favorito. Nos bastidores, porém, todo o meio político sabia que Serra trabalharia pela reeleição do seu ex-vice.
A missa em memória aos sete anos da morte do ex-governador Mário Covas, no Mosteiro São Bento, foi o evento mai significativo da inviabilidade da reedição da aliança entre tucanos e democratas para a eleição da capital paulista. No mosteiro, Alckmin e Kassab se encontraram e, juntos com o governador José Serra, sentaram-se na primeira fileira de cadeiras. Cumprimentaram-se protocolarmente, mas não se falaram em nenhum outro momento da celebração.
Ao final da solenidade, Kassab falou à imprensa: “Eu tenho muita vontade [de disputar a reeleição]. De zero a dez, minha vontade é dez”. Entretanto, com toda a moderação de códigos hesitantes próprios da política, como que deixando portas abertas até o último momento ou deixando uma brecha retórica para um recuo, ponderou: “mas não posso fazer dessa vontade uma imposição, porque existem os interesses da cidade, que são muito maiores”.
Alckmin, por sua vez, quando fora questionado sobre o apoio de Serra a sua candidatura, evocou o senso de pertencimento partidário: “Serra é um homem de partido e vai apoiar o candidato do PSDB”.
Outro governador tucano é que veio em favor de Alckmin: Aécio Neves. O gesto do mineiro, evidentemente, era um movimento seu na disputa com Serra pela indicação do PSDB à Presidência da República. “Geraldo Alckmin é um homem público com todas as condições de ser candidato a todos os postos. É um privilégio não só para São Paulo capital, mas para o estado de São Paulo e para o Brasil ter a possibilidade de ter um gestor como o Geraldo”, disse Aécio.
O apoio “interestadual” à sua candidatura não evitou uma sucessão de constrangimentos que denunciavam o isolamento da sua candidatura dentro do seu próprio partido. O evento que o oficializou como candidato até teve a presença de José Serra, mas, da numerosa bancada tucana de 12 vereadores apenas dois participaram.
Outra gafe. Alckmin foi recebido por FHC em seu escritório, ocasião em que o ex-presidente manifestou apoio a sua candidatura. Entretanto, lá pelas tantas, Fernando Henrique acabou elogiando Kassab, indiretamente. “Vai ser uma eleição positiva, porque ele vai estar herdando uma prefeitura organizada, que é uma prefeitura onde o PSDB tem papel predominante. Não há contradição nisso”.
A imprensa — claro! —anotou o “deslize”.
Kassab reverteu a vantagem que Alckmin vinha apresentando nas pesquisas e foi para o segundo turno contra Marta Suplicy. O resultado já é sabido. Tirando o terceiro lugar na disputa, Alckmin declarou apoio a seu “algoz” na segunda fase da campanha. Vitória de Serra, ainda que contra um candidato tucano.
Em Minas essa missão conseguiu ser ainda mais esquizofrênica. Dada a boa relação que o tucano Aécio Neves enquanto governador tinha com o petista Fernando Pimentel, prefeito da capital, eles decidiram buscar, juntos, um nome de consenso que pudesse reunir o apoio tanto do PT quando do PSDB. Àquela época, só havia um nome capaz disso: Walfrido dos Mares Guia.
Ele já fora vice-prefeito do município de Contagem (1993-1994), vice-governador (1995-1999), deputado federal (1999-2002) e um dos coordenadores de campanha de Ciro Gomes no primeiro turno das eleições presidenciais de 2002. Com a vitória de Luis Inácio Lula da Silva, Mares Guia assumiu o Ministério do Turismo. No segundo mandato de Lula, assumiu por um breve período a secretaria das Relações Institucionais. A relação entre ele e o então presidente era de amizade. O mesmo laço que tinha com Aécio Neves e com o vice-presidente José Alencar.
Tido como nome ideal, iniciaram-se as articulações no sentido de lançá-lo candidato de tucanos e petistas à Prefeitura de Belo Horizonte. Nesse ínterim, porém, surge na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios uma denúncia contra o senador Eduardo Azeredo, de quem Walfrido fora vice-governador, que acabou o atingido também. Foi uma senhora barafunda.
Inicialmente a CPMI fora criada para apurar corrupção praticada por um dos diretores dos Correios, Maurício Marinho, gravado recebendo R$ 3 mil de um suposto empresário. No vídeo, ele disse que tinha autorização do deputado federal Roberto Jefferson (RJ), que também era presidente nacional do PTB. Pressionado, Jefferson concedeu entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, revelando um esquema de compra de voto parlamentar realizado pelo governo, batizado de “mensalão”. Foi quando veio a público o nome do publicitário Marcos Valério, apontado por Jefferson como o operador do esquema para pagamento de propinas.
Os tucanos, que foram pra cima do governo, perderam o prumo quando foi revelado que o mesmo operador, Marcos Valério, já havia prestado o mesmo serviço para um tucano, àquela data, o presidente nacional do PSDB: o então senador Eduardo Azeredo. Pau que bate em Chico, bate em Francisco. O mesmo Marcos Valério teria organizado um esquema de financiamento da campanha à reeleição de Azeredo, irrigado por meio de recursos públicos. Walfrido foi apontando como um dos partícipes do esquema, o que acabou inviabilizando-o eleitoralmente.
Assim, como que um plano B, surge o nome de Marcio Lacerda. Empresário do setor de telecomunicações, ele fora secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional (2003- 2005), durante a gestão Ciro Gomes, e assessor na área de tecnologia e desenvolvimento regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Aécio o nomeou Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, em abril de 2007.
Se com Walfrido Mares Guia o projeto tinha tudo para ser um passeio, leve, com vitória praticamente garantida, com Márcio Lacerda o caminho foi um pouco mais aflitivo. A começar pela resistência de lideranças do PT de Minas Gerais, dentre essas, o do então ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (cujo nome à época era ventilado como um dos possíveis candidatos petistas a sucessão de Lula) e do secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci.
Eles chegaram a conseguir junto à Executiva Nacional do PT a aprovação de um veto à aliança com os tucanos. Numa dessas ironias que a sequência da história acaba criando, quando da notícia do veto, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ligou para Fernando Pimentel (seu amigo desde os tempos da militância contra a ditadura militar) manifestando sua preocupação com a decisão do PT de vetar a aliança com o PSDB.
Com isso, cresceu a pressão sobre a direção do PT em Minas Gerais. Outros 141 diretórios municipais do partido pediam pela aprovação de alianças com o PSDB, mas também com o então PPS (hoje Cidadania) e com o DEM — as três principais legendas oposicionistas do governo Lula.
Não era pouca coisa. Esse total de 141 municípios representavam 52% dos 267 diretórios municipais que informaram à executiva estadual do PT sobre as alianças que estavam articulando para disputarem as eleições. Nesses 141 diretórios, 63 municípios queriam se aliar ao PSDB, outros 44 com o DEM e 34 com o PPS.
Mas quem tem padrinho não morre pagão.
Fenando Pimentel foi a Brasília se encontrar com o então presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o à época secretário-geral da legenda, José Eduardo Cardozo (SP). O prefeito de Belo Horizonte apontou que o veto à aliança com os tucanos poderia levar o PSDB a uma coligação com o PMDB, o que, na avaliação de Pimentel, poderia implicar numa derrota do PT na capital.
Já Aécio conversou diretamente com Lula para que ele interviesse pela aprovação da coligação. Deu certo. Lula até criticou a decisão tomada pela direção nacional do PT. “Eu confesso que, depois de o PT de Minas aprovar […], a direção nacional do partido poderia tranqüilamente apenas ter confirmado tudo o que aconteceu. Se tivesse que fazer uma repreensão ao Pimentel, que a fizesse em segredo, porque o jogo estava sendo feito à luz do dia”, disse
Mas que isso: ele confirmou seu apoio à aliança informal entre PT e PSDB para a disputa da Prefeitura de Belo Horizonte. “Vou participar pouco das eleições. Mas BH é uma das cidades que eu quero ir, até porque é importante a continuidade do projeto. BH está dando certo, a relação entre o prefeito e o governador tem sido boa, as divergências políticas têm que ser encaradas com uma certa naturalidade“, disse o então presidente.
Como no PT manda quem pode (que desde sempre é o Lula) e todo o resto obedece porque tem juízo, a direção do nacional do Partido dos Trabalhadores recuou e transformou o veto numa recomendação, autorizando uma coligação informal com os tucanos.
Faltava, porém, a composição do PSDB. Convencido de que seu perfil conciliador seria o seu melhor ativo na disputa com José Serra, Aécio articulou para que o diretório do PSDB de Belo Horizonte aprovasse com 85 votos dos 88 delegados votantes, o apoio informal à chapa encabeçada por Márcio Lacerda (PSB), que teria como vice o petista Roberto Carvalho. A legenda não só abriu mão de lançar candidatura própria como também aceitou não participar formalmente da coligação.
Essa ojeriza dos petistas aos tucanos era, por assim dizer, apenas jogo de cena. Um levantamento feito pela Folha de São Paulo junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontou que naquelas eleições o PT e o PSDB estavam juntos em um total de 1.095 alianças. Na comparação com as eleições de 2004 até houve um pequeno crescimento de 20.99% (905).
Esses números mostram que Márcio Lacerda até era o “candidato da aliança” entre tucanos e petistas, mas estava longe de ser o único a reunir esses renhidos adversários no mesmo palanque.
Quando a disputa começou, a candidata da frente de esquerda, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB), liderava as intenções de voto. Pesquisa feita pelo instituto IBOPE dava a ela 17% das intenções de voto, seguida de perto pelo Leonardo Quintão (PMDB), com 14%. O candidato da aliança entre tucanos e petistas figurava com 8%.
Mas eram tempos em que a propaganda eleitoral na televisão tinha forte influência sob as eleições. Bastou ter início o programa eleitoral e Lacerda passou à frente na disputa. Lacerda tinha 11 minutos e 47 segundos. Quintão poderia usufruir de 5 minutos e 23 segundos. Jô, apenas 1 minuto e 46 segundos. Isso sem falar das inserções. Lacerda teria 1.062 inserções, o que daria cerca de 23 por dia). Jô só dispunha de 159, o que dava em média 3,6 inserções diárias.
Levantamento feito na segunda quinzena de agosto registrou um salto de 15% das intenções de voto do pessebista. Ele foi de 8% para 21%, o que o colocou em empate técnico com Jô Moraes, que teve uma queda de 3%, de 20% para 17%.
Assim, abusando da presença da imagem dos seus dois padrinhos, Aécio e Pimentel – que eram muito bem avaliados – Lacerda foi ampliando sua vantagem, o que deu início a especulações de que ele poderia ganhar já no primeiro turno. Faltou, porém, combinar com os eleitores.
Embora tivesse reunido dois importantes padrinhos, a performance de Márcio Lacerda como candidato sempre foi muito frágil. Faltava-lhe carisma e lhe sobravam tiques e outras caricaturas “exploráveis” por seus adversários.
O personagem interpretado por Leonardo Quintão, algo meio matuto, dotado de uma e bordões dignos de personagens do programa humorístico a Praça é Nossa, como “Isso dá pra fazer”, “Dá um joia aí” se popularizou. Ele surpreendeu com sua arrancada na reta final para o primeiro turno.
Márcio Lacerda foi praticamente levado no colo por seus padrinhos até o segundo turno, recebendo 43,59% dos votos. Ele disputaria a segunda etapa das eleições com um embalado Leonardo Quintão, que alcançou 41,26% dos votos.
O susto virou pânico quando vieram os números da primeira pesquisa de intenção de voto no segundo turno. O Datafolha registrou 47% de intenção de votos para Leonardo Quintão, contra 37% de Márcio Lacerda – 10% de vantagem. A coordenação de campanha acreditava numa recuperação, mas receava que não houvesse tempo suficiente para tal.
A eventual derrota de Lacerda colocaria em xeque muitos interesses. Aécio, por exemplo, podia desistir de buscar a indicação do partido. Pimentel se enfraqueceria para uma disputa, em 2010, para o governo de Minas, em que concorria internamente contra Patrus Ananias.
Temperando ainda mais a disputa de 2008 com a competição que se desenharia para 2010, a Folha de São Paulo noticiou um telefonema feito pelo então ministro das Telecomunicações (correligionário e apoiador de Quintão, também pretenso candidato ao Governo de Minas) Hélio Costa, para um assessor de José Serra, “para dar “os parabéns” ao governador tucano pela passagem do prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP) para o segundo turno das eleições”.
Apesar de todo esse frisson, nas eleições de 2008 a onda Quintão não passou de uma marola sem grande força de arrebentação. Ele se perdeu no personagem que criara e foi superado por Márcio Lacerda, que o obteve 59,12% dos votos válidos, ante os 40,88% recebidos pelo emedebista.
Apesar do êxito, Aécio saiu enfraquecido em sua “tese da convergência”, sua aposta na disputa contra José Serra.
O confronto direto
Em São Paulo, entre março e abril, Aécio Neves ouviu da boca do próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (com toda circunavegação entre hesitante, afável e conciliadora), que ele preferiria Serra a ele como o candidato tucano à Presidência da República. Segundo os relatos de interlocutores tanto de Aécio quanto de FHC, apurados pelo jornalista Kennedy Alencar, o mineiro teria ouvido um “política tem fila. Serra está na frente”, do ex-presidente.
O ex-presidente também apontou que Serra, àquela data, liderava todas as pesquisas de intenção de voto. Fato. O governador de São Paulo oscilava entre 36% e 38% das intenções de voto. Nos cenários em que Aécio era testado como o candidato tucano, registrava entre 14% e 15%.
FHC resgatou o erro cometido pelo PSDB ao lançar Alckmin como candidato, que registrava baixa intenção de votos, quando Serra apresentava melhor desempenho nas pesquisas. A conversa, por óbvio, não agradou Aécio.
O desalento do mineiro passou a ser debatido nos gabinetes das lideranças do seu antigo partido, o PMDB. O então presidente do PMDB, Michel Temer, e o líder da legenda na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alvez (RN), convidaram Aécio para retornar à sigla e sair candidato à Presidência em 2010.
A legenda tinha se fortalecido muito nas eleições municipais de 2008 e tinha uma expressiva participação na Esplanada dos Ministérios, ocupando seis ministérios no governo Lula. O PMDB também tinha a maior bancada tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. “É até constrangedor um partido do tamanho do PMDB esperar para ver quem vai ganhar. O PMDB nunca faltou com seu apoio ao Brasil“, disse o então líder da legenda no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO), sobre a articulação do partido para uma candidatura própria ao Palácio do Planalto.
O histórico da legenda sobre seus presidenciáveis era pouco animador. O ex-presidente Itamar Franco voltou ao partido para tentar uma candidatura em 1998, contra a reeleição de FHC. Não rolou. Da mesma forma com o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, nas eleições de 2006. A ambos foi negada a legenda para disputar o Palácio do Planalto. Mas Aécio (eles prometiam) teria um “tratamento diferenciado”.
Em perspectiva histórica, vejam a ironia desse movimento. A escolha de Dilma como candidata à sucessão de Lula desagradava setores do próprio PT e muitos integrantes do PMDB. A filiação de Aécio Neves poderia abrir margem para um apoio do Lula (vejam vocês!) a candidatura do mineiro. Hoje, essa parece ser uma hipótese delirante. Mas não era à época, se levarmos em consideração a boa relação de Lula e Aécio.
E não era uma boa relação qualquer. Numa entrevista ao jornal Valor Econômico, Ciro Gomes, em 2010, tornou público que Aécio teria tido um papel fundamental no desmonte do que chamou de “articulação golpista”, em 2005, por meio da CPI dos Correios que investigava denúncias do mensalão. Segundo Ciro, a CPI ia escalar o desgaste político do governo até criar as condições políticas de levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao impeachment. “Íamos para o hangar lá em Belo Horizonte e brigávamos muito, mas chegávamos a um acordo que era avalizado pelo Aécio. Ele nos ajudou a salvar o mandato de Lula”, disse Ciro.
O petista e o tucano também alimentavam uma ligação pessoal. Em entrevista para a Revista Época, Aécio disse que mandava mimos para o presidente Lula. “Mando todo mês a cachaça da fazenda da família para o presidente. A Matusalém. Não tem nada parecido no Brasil. Quantas garrafas? Ah, o Lula não bebe sozinho”, disse.
Duas passagens registram o embrião dessa articulação. Primeiro, numa fala do próprio Lula à Folha de São Paulo. Sem negar eventual acordo, clara e objetivamente, o então presidente não descartou a possibilidade de apoio a candidatura de Aécio, caso ele migra-se para um partido da base aliada do governo. “”O candidato pode ser do PSDB? A base do governo terá candidato. Quem vai ser, não sei. É tão cedo. Ano que vem vamos ter eleição para prefeito. Vamos aguardar para ver. Vamos ver qual o comportamento do PSDB nisso tudo. Acho que muita coisa vai acontecer no Brasil para melhor”, disse.
O outro registro desse movimento foi feito pelo ex-ministro das Telecomunicações, Hélio Costa, então candidato ao governo de Minas pelo PMDB. Em 2010, numa sabatina na Folha de São Paulo, ele explicou que houve um vácuo político depois das quedas do [José] Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] e [Antônio] Palocci [ex-ministro da Fazenda]. “Se ele tivesse se manifestado lá atrás, quem sabe até pela relação de intimidade que tinha com o presidente.”
O ex-ministro também relatou que disse pessoalmente a Aécio que abriria mão da sua candidatura ao governo de Minas, caso ele saísse candidato a Presidente da República. “Eu teria que me posicionar por um candidato mineiro. Seria impossível para um candidato mineiro ficar contra uma candidatura mineira. Se ele fosse candidato, eu estaria rigorosamente fora do processo político”. Ainda na avaliação do ex-ministro, teria faltado “visão política para perceber que não conseguiria se viabilizar como candidato no PSDB e contra Serra” e um pouco de desprendimento político — “para não dizer coragem”.
Costa disse ainda que o meio político avaliava que, no PSDB, Aécio não derrotaria Serra na indicação do partido. “Quem conversava em São Paulo com políticos e empresários não via a possibilidade de o Aécio emplacar a sua candidatura dentro do PSDB com o Serra.”
Aécio, porém, não se via fora do ninho tucano e os caciques do PSDB fizeram uma “recalibragem” do discurso, abrindo uma possibilidade de — quem sabe! — o mineiro se viabilizar como o candidato tucano à Presidência da República.
No seu estilo “liso”, dúbio, de quem não se deixa prender em nenhum embaraço político, Fernando Henrique Cardoso recuou do seu “política tem fila” e resgatou a tese da realização de prévias para escolha do presidenciável tucano. “Eu sempre que aliso um aliso o outro, porque acho que os dois são excelentes e não está na hora ainda de definições. Eu repito e digo sempre: o PSDB tem a vantagem de ter excelentes candidatos”, disse o ex-presidente, ao lado de Aécio, após um encontro em Belo Horizonte.
A hipótese agradou o mineiro. “Nós não devemos temê-la. A prévia é, inclusive, um instrumento de mobilização do partido. Agora, ela só existe a partir do momento que existe mais de um postulante”, corroborou Aécio.
A realização das prévias se tornou o “cabo de guerra” dos dois tucanos. Enquanto Aécio dizia que elas eram “inevitáveis”, Serra desconversava, negando-as sem negar: “Não sou, nunca fui e não serei contra prévias para escolhas de candidatos, quando não houver consenso sobre nomes”.
O tempo foi passando, sempre com um novo impasse acerca da convocação dos representantes do partido para a escolha coletiva do candidato tucano. Quando não era o formato das prévias, era a melhor data para sua realização.
“Estou sentindo que ele [Aécio Neves] será triturado pelo Serra. Tenho 30 anos de experiência e uns 20 de conhecimento de como é que funciona o trator que o Serra usa na política. Não tem limite”, disse o então também presidenciável, Ciro Gomes, conjecturando sobre sua candidatura a jornalistas em uma entrevista em Belo Horizonte, após sua visita ao prefeito Márcio Lacerda (então PSB), à época seu correligionário.
A afirmação não era nem premonitória. Cerca de um mês antes o jornalista Mauro Chaves, editorialista do jornal Estado de São Paulo, publicou em sua coluna um texto com o título “Pó Para Governador”, — numa clara alusão aos boatos (nunca comprovados) de que Aécio Neves seria usuário de cocaína. O texto tecia intrigas palacianas, criticando a defesa do mineiro pelas prévias e defendo a indicação de Serra como o presidenciável tucano.
O que Ciro Gomes não sabia é que já estava em curso uma contra ofensiva organizada pelo jornal Estado de Minas, colocando o experiente jornalista Amaury Ribeiro Jr. para apurar como Serra estava colocando espiões para “bisbilhotar Aécio Neves”.
Juntando essas e outras apurações, Amaury produziu uma matéria sobre fraudes e desvios ocorridos durante a “Era das Privatizações” do governo FHC, sob o comando do então Ministro do Planejamento, José Serra.
Serra ligou diretamente para Aécio pedindo sua intervenção junto à redação do jornal, para que o conteúdo não fosse publicado — o que acabou acontecendo.
No ano seguinte, porém, o jornalista compilou todo esse levantamento no livro A Privataria Tucana, reunindodocumentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é personagem central do livro, junto com amigos e parentes.
Paralelamente, Serra conseguia junto à executiva nacional do partido protelar a escolha do candidato tucano. Diferente de Alckmin, Aécio não esticou a corda. Anunciou, em dezembro de 2009, que estava desistindo da disputa pela indicação do PSDB.
Era o fim da disputa interna entre o mineiro e o paulista. A cúpula da legenda, porém, não queria ter que ter escolhido entre um ou outro. Queria os dois numa chapa puro (proposta cogitada antes mesmo do início da discussão das prévias) com Serra na cabeça da chapa e Aécio de vice.
O “café com leite” tucano tinha um quê de geografia eleitoral, mas era também uma tentativa de amarrar Aécio ao projeto presidenciável do PSDB. Àquela época, os caciques da legenda estavam intrigados com o porquê que Aécio Neves, do alto da sua grande popularidade e liderança política em Minas não conseguia entregar a maioria dos votos do seu estado ao candidato do PSDB à Presidência da República. O “Lulécio” — uma espécie de acordo secreto entre Aécio e Lula — era a explicação mais plausível, mas nunca admitida.
Aécio agradecia o convite mas recusava a proposta de pronto. Foram várias as negativas nesse sentido. “Eu acho que seria de certa forma pretensioso um partido, seja ele qual for, achar que solitariamente possa vencer as eleições num país com tantas diferenças e com quadro partidário tão plural quanto o nosso. Eu acho que o natural seria uma composição com outras forças políticas”, disse a repórter Gabriela Guerreiro, da Folha de São Paulo.
Algumas lideranças do PSDB, entretanto, acreditavam na conversão do “não” de Aécio num “sim”, com uma abordagem direta por parte do próprio José Serra. Mais um erro de avaliação.
O mineiro reiterou sua recusa ao próprio paulista, num encontro reservado no Hotel Meliá, em Brasília. Na ocasião, Aécio também pediu que encerrassem essa questão. Num gesto de boa fé, ele propôs a Serra que estreitassem suas relações, para que a proximidade possibilitasse “uma colaboração mais concreta”. “O que posso garantir é o resultado em Minas Gerais”, teria dito Aécio a Serra. “Farei tudo o que for necessário para ajudar. Os resultados vão mostrar o meu empenho.”
Não foi bem o que aconteceu. O primeiro evento da “aproximação” entre Aécio Neves e José Serra foi a inauguração da Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, no mesmo dia em que o avô do governador mineiro completaria 100 anos — entre outros importantes simbolismos que permearam a data.
Com a conhecida familiaridade de Aécio Neves e o jornal Estado de Minas, na véspera da solenidade o jornal publicou um duro editorial intitulado “Minas a reboque, não!”.
No evento só discursaram Aécio e o então vice-presidente da República, José Alencar (PRB). Ainda teve o travo amargo que deve ter ocorrido em José Serra quando seu nome foi anunciado e um coro de milhares de vozes gritou “Aécio Presidente, Aécio Presidente!”
Mais que o “carão” a que Serra foi submetido na inauguração da Cidade Administrativa, a baixa “militância” do mineiro à campanha de Serra se fez sentir na reedição e uma aproximação no estado entre os adversários no plano nacional.
Essa aproximação, acredita-se, foi reeditada na campanha dos seus respectivos apadrinhados: Dilma Roussef de Lula, e Antônio Anastasia de Aécio Neves. Em 2010 o “Dilmasia” deu ar de confirmação às suspeitas de 2006 e nitidez às sequelas deixadas pela disputa à indicação do nome tucano.
Não era, porém, um movimento escrachado de apoio entre tucanos e petistas. Essa “cooperação” entre os divergentes se operava por meio dos partidos que integravam o arco de apoio político do PSDB em Minas, mas que também compunham a base de sustentação política do PT no plano nacional.
Mas, quisera Serra que os problemas da sua campanha estivessem restritos ao adultério eleitoral dos seus correligionários em Minas Gerais. Ele teve dificuldades de acertar seu posicionamento político.
Na condição de adversário do petista, Serra foi duramente criticado quando usou uma imagem de Lula em sua propaganda eleitoral. O momento econômico brasileiro era de profundo otimismo, e a campanha tucana também não soube trabalhar com isso. Passou um bom tempo trabalhando a suspeição sobre a capacidade da sucessora de Lula de manter o país naquele ritmo de desenvolvimento.
Uma estranha ambiguidade a quem sendo o candidato opositor apresenta-se como que aquele que daria continuidade ao governo. “Se é para ser continuidade, a tendência é que o eleitor vote em quem o Lula indicar. Se queria ganhar, Serra tinha de se assumir como opositor”, disse Pedro Bahia cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em uma matéria da BBC Brasil.
Tido como progressista, Serra também se enveredou por uma controversa pauta moral, acusando a candidata petista de querer descriminalizar o aborto. No final do segundo turno ele ainda se permitiu entrar numa falsa polêmica ridícula, tentando transformar numa violenta pedrada uma bolinha de papel que lhe fora lançada num evento de campanha no Rio de Janeiro.
E, nessas horas, quando faltam perspectivas sobram desaglutinadores. As urnas nem haviam sido abertas, no segundo turno, e lideranças dos dois principais aliados tucanos, o PPS e o DEM, já debatiam a viabilidade de Aécio Neves ou de Alckmin para as eleições de 2014. Serra sabia o que estava para acontecer. “Vocês não estão vendo que esta é a minha última chance?“, disse o presidenciável tucano numa reunião com aliados, após esmurrar uma mesa.
Tido como aquele a que se preparou a vida para ser Presidente da República, Serra perdeu a eleição para a candidata do Lula, Dilma Rousseff. Para Serra, além da derrota eleitoral desenhava-se um prelúdio de achatamento político dentro do seu próprio partido.
Gozando àquela data de liderança política absoluta em Minas Gerais, Aécio Neves fez barba, cabelo e bigode nessa eleição. Elegeu-se para o Senado sem muitas dificuldades e o seu sucessor para do Governo de Minas, Antônio Anastasia. Elegeu ainda o ex-presidente Itamar Franco para o Senado, na segunda cadeira que estava em disputa.
Em São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) foi reconduzido no primeiro turno para um terceiro mandato à frente do governo do estado. Ele recebeu 50,63%, contra os 35,23% destinados ao senador Aloizio Mercadante (PT). Serra trouxe Alckmin de volta ao jogo estadual num gesto para enfraquecer Aécio em suas articulações dentro do partido. Funcionou em partes. O mineiro foi enfraquecido no ninho tucano, mas a eleição de Alckmin não era um feito que Serra poderia capitalizar. Como prêmio de consolação, Serra elegeu o seu secretário Chefe da Casa Civil de São Paulo para o Senado, Aloysio Nunes.
No plano nacional, Aécio despontava como a liderança natural da oposição a recém-eleita Dilma Rousseff. A Serra restava se recolher e calcular seus novos passos. Sobre o ninho repousava a expectativa de uma nova tormenta pela indicação do seu candidato à presidência. Mineiros e paulistas voltaria a se enfrentar. Os mesmos personagens, inclusive. Dessa vez, com a correlação de força mais favorável aos que foram preteridos.